quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Grandes Bispos Brasileiros: D. Antônio de Castro Mayer



Dom Antônio de Castro Mayer, filho de João Mayer e de Francisca de Castro Mayer, nasceu aos 20 de junho de 1904, em Campinas, no Estado de São Paulo, Brasil. De família profundamente católica e numerosa (tinha 11 irmãos, dos quais duas religiosas), ainda não atingira a idade de 7 anos quando perdeu o pai, de origem alemã, da aldeia de Stettfeld na Baviera. Referindo-se a este dizia: De meu pai recebi o maior tesouro: a fé.

Com a idade de 12 anos, entra para o Seminário menor de Bom Jesus de Pirapora, dirigido pelos padres Premonstratenses. Em 1922, começa o Seminário Maior em São Paulo, e, por sua inteligência e bons resultados nos estudos, é enviado por Dom Duarte Leopoldo e Silva a Roma para completar seu curso eclesiástico na Universidade Gregoriana. No dia 30 de outubro de 1927, é ordenado sacerdote pelo Cardeal Basílio Pompilij, Vigário Geral de sua Santidade o Papa Pio XI. Pouco depois, recebe na Universidade Gregoriana o grau de doutor em teologia.

De volta ao Brasil, é nomeado professor do Seminário de São Paulo. Durante 13 anos, ensina Filosofia, História da Filosofia e Teologia Dogmática.

Em 1940, o Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, o nomeava assistente geral da Ação Católica, então em fase de organização.

Em 1941, é nomeado cônego catedrático do Cabido Metropolitano de São Paulo, com a dignidade de primeiro Tesoureiro. Pouco depois, torna-se Vigário Geral (1942).

Em 1945, é transferido para o cargo de Vigário Ecônomo da Paróquia de São José do Belém, ao mesmo tempo se ocupa das cátedras de Religião e Doutrina Social Católica, respectivamente na Faculdade Paulista de Direito e no Instituto Sedes Sapientiae, ambas escolas superiores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A 6 de março de 1948, Sua Santidade o Papa Pio XII eleva Mons. Antônio de Casto Mayer a Bispo titular de Priene e Coadjutor, com direito a sucessão, do Arcebispo-Bispo de Campos, Dom Octaviano Pereira de Albuquerque. No dia 23 de maio do mesmo ano, o Núncio Apostólico do Brasil, Dom Carlo Chiarlo, oficia a cerimônia de sagração, tendo como assistentes: Dom Ernesto de Paulo, Bispo de Piracicaba e Dom Geraldo de Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São Paulo. Em virtude do falecimento de Dom Octaviano, em 3 de janeiro de 1949, Dom Antônio torna-se Bispo Diocesano dessa importante circunscrição eclesiástica do Estado do Rio.

Além das atividades de seu cargo, Dom Antônio leciona também, primeiro na Faculdade de Filosofia e, depois na Faculdade de Direito de Campos.

Após sua corajosa participação no Concílio, ele volta à sua Diocese onde mantém com firmeza a Tradição até sua demissão forçada, em 1981. Mesmo afastado, diante da implantação do progressismo na Diocese por parte do novo titular, sente-se no dever de apoiar e sustentar os padres que havia formado e une-se a Dom Lefebvre, com quem fará mais de um manifesto de resistência às inovações ou de advertência ao Papa, e sobretudo se fará presente em Ecône como Co-sagrante, nas sagrações de 30 de junho de 1988. Em dezembro deste mesmo ano, realiza uma ordenação sacerdotal, a última, antes de ser constrangido, pela debilitação de suas forças, a prosseguir o combate apenas pela oração e pelo sofrimento.

Sua grandes qualidades de pastor

Dom Antônio de Castro Mayer foi um dos bispos mais conhecidos na atualidade religiosa brasileira e, por isso mesmo, projetou-se além de nossas fronteiras, através de suas Pastorais, Instruções, circulares, traduzidas em vários idiomas. Como homem de governo, distinguiu-se pelo seu labor apostólico e pela sua firmeza. Por outro lado de temperamento afetuoso, de maneiras simples e corteses, sempre esteve disposto a ceder e a tudo conciliar, quando a conciliação não trazia inconveniente a não ser para ele. Caso contrário, seria capaz das mais irredutíveis intransigências, das mais intrépidas deliberações, das mais ousadas atitudes quando estava em jogo, direta ou indiretamente, um princípio doutrinal, uma questão que pudesse trazer prejuízo para o bem espiritual de seu rebanho ou para a honra da Santa Igreja. Homem verdadeiramente apostólico, sabia ser leão na defesa dos direitos de Deus e cordeiro ao sacrificar a cada instante seus mais legítimos interesses pessoais. É isto que explica a admiração e a afeição que ele suscitou em torno de si durante tantos anos de fecunda atividade pastoral.

Reorganização da atividade pastoral na Diocese

Desde que foi investido de sua missão episcopal em 1948, Dom Antônio percorreu toda a diocese para conhecer "in loco" a situação espiritual e material de seus diocesanos. Pôde ele dirigir assim a reorganização da vida das paróquias, tanto no interior como nas cidades. Conseguiu também resolver velhos problemas que paralisavam a atividade das Ordens Terceiras Franciscana e Carmelita, dando assim novo esplendor às Igrejas situadas em suas propriedades.

Atraiu também a Campos numerosas famílias religiosas e deu seu apoio às já existentes. Assim encontramos na diocese de Campos Beneditinos, Salesianos, Redentoristas, Carmelitas Descalços, Franciscanos, Crúzios, etc. E Congregações femininas foram chamadas para ajudar nas escolas, nos hospitais, nos asilos, etc.

Fundação do Seminário

Em 1956, abre o Seminário Menor da Diocese na vila, hoje cidade, de São Sebastião de Varre-Sai. Em 1967, Dom Antônio obtém a permissão do funcionamento do Seminário Maior, com os cursos de Filosofia e Teologia, esta transferida depois para Campos.

Cartas Pastorais

O renome de Dom Antônio se deve, em grande parte, à alta qualidade doutrinária de suas numerosas Cartas Pastorais, que tão forte impressão causaram na alma de seus diocesanos e, mesmo, muito além dos limites da própria diocese.

Talvez a mais célebre é a de 6 de janeiro de 1953 sobre os Problemas do Apostolado Moderno.

Outras Pastorais assinalaram também o episcopado de Dom Antônio destinadas a ser um sólido sustentáculo para os católicos nestes tempos de crise e a premunir seus fiéis contra os erros do progressismo.

O valor de seus escritos e a importância que tiveram em momento decisivos de nosso país, tornam Dom Antônio digno do reconhecimento de todos os brasileiros e de todo o povo cristão.

Dom Antônio, o devoto de Nossa Senhora

Omissão imperdoável seria falar de Dom Antônio sem mencionar, ainda que em poucas linhas, sua profunda e terna devoção à Virgem Santíssima, Senhora Nossa. Logo no início de seu pastoreio como Bispo de Campos, ordenou a todos os sacerdotes que rezassem, após as preces leoninas do final da Missa, 3 Ave-Marias pela preservação da fé e extinção das heresias na Diocese de Campos. Tal era sua concisão: Vencedora de todas as heresias, ontem como hoje, Maria Santíssima conseguirá de seu Divino Filho, a vitória sobre os inimigos da Santa Igreja, um tempo de paz, como prometeu em Fátima, com o triunfo do seu Imaculado Coração. "Ipsa conteret" - era a sua divisa, a sua fé, a sua confiança inabalável: "Ela esmagará".

Dom Antônio, cuja piedade filial e confiança no poder da Mãe de Deus sempre nos edificou, tornou-se em Campos o arauto de Nossa Senhora, o pregador de seus privilégios, o promotor de sua causa, o organizador das salutares missões presididas pela Imagem Peregrina e Milagrosa de Nossa Senhora de Fátima, o fautor, durante seu governo episcopal, de todos os movimentos e obras paroquiais empenhadas na difusão e aprofundamento da devoção mariana. Suas Pastorais sobre Nossa Senhora, a insistência em suas homilias e retiros sobre a recitação do Rosário, ou, pelo menos, do terço quotidiano, a campanha do terço contínuo, a devoção às três Ave Marias, a ênfase na pregação da oração e da penitência, da Consagração ao Imaculado Coração de Maria e da devoção aos Primeiros Sábados atestam a importância que ele sempre atribuiu ao papel de Maria Santíssima, Nossa Senhora, na economia da salvação, na solução da crise contemporânea e na sua atividade episcopal.

Ele costumava dizer a seus padres: tal obra começou sob a proteção e as bênçãos de Nossa Senhora? Não há de fracassar.

No seu leito de sofrimento, tinha diante de si, duas imagens caras ao coração de filho: a imagem do Imaculado Coração de Maria e o retrato de sua mãe.

Sua atitude no Concílio

Durante o Concílio, Dom Antônio de Castro Mayer teve de enfrentar a corrente progressista e se salientou como um dos líderes da corrente conservadora. Suas intervenções em favor do Latim na Liturgia, sobre a estrutura monárquica da Igreja, pela manutenção dos privilégios que na ordem social cristã devem distinguir das seitas heréticas a Santa Igreja, e pela condenação explícita do comunismo no esquema da Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo fizeram dele um dos principais defensores da doutrina tradicional da Igreja no Concílio. Com Dom Marcel Lefebvre ele fez parte do "Coetus Internationalis Patrum" e foi com ele um dos dois únicos Bispos no mundo a continuar, no período pós-conciliar, um combate público contra os erros que corrompem a Fé e causam a perda de tantas almas. Ainda por ocasião do Concílio, Dom Antônio e Dom Lefebvre, juntamente com outros Padres conciliares, coordenaram as petições de centenas de Bispos em prol da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e da condenação do comunismo e do socialismo pelo Concílio.

Obras educacionais

A atividade de Dom Antônio se estendeu a todos os aspectos de formação de seus diocesanos. Como poderiam ser esquecidas as escolas? Incansavelmente Dom Antônio fundou, em meio a grandes dificuldades, estabelecimentos de ensino. Com esta finalidade, soube trabalhar tanto com os padres diocesanos como os de Congregações que conseguiu para Campos.

Os diversos colégios fundados vieram trazer aos diocesanos de Campos a possibilidade de dar aos filhos uma formação sólida tanto no campo dos estudos como no plano da Fé.

Bispo Emérito

No dia 1º de novembro de 1981, já como Administrador Apostólico da Diocese, Dom Antônio celebra sua última Missa Pontifical na Catedral de Campos, numa cerimônia memorável pela beleza da Liturgia, pelo comparecimento maciço dos fiéis vindos de toda a parte a transbordar a Catedral, que se tornou pequena, e pelas homenagens espontâneas de gratidão.

Conclusão

Após 42 anos de episcopado e 63 de sacerdócio, Dom Antônio de Castro Mayer deixou uma obra que se caracteriza pela pureza doutrinal e sua atualização constante na prática. Nem as dificuldades encontradas, nem as pressões morais o fizeram desviar. A diocese confiada a seu zelo é a mais bela prova de seu labor apostólico sempre inspirado pelo amor da verdade. Essa diocese é um milagre cuja história fica para se escrever. Padres, seminaristas, religiosas, sem falar dos milhares de fiéis que permaneceram católicos no meio da apostasia geral... onde encontrou ele a força para realizar esta obra extraordinária? Sem dúvida na devoção a Nossa Senhora. Sua divisa episcopal: "Ipsa conteret", a consagração da Diocese ao Imaculado Coração de Maria, as 3 Ave-Marias no final da Missa pela preservação da Fé e extinção das heresias testemunham esta presença de Nossa Senhora.


*Fonte: FSSPX

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